Nota de Pesar – Manoel da Conceição
Nascido em 1935, na região de Pedra Grande, no Maranhão, a vida de Manoel da Conceição foi marcada pela pobreza, fruto da exclusão político-econômica.
É com extremo pesar que a Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL), recebe a notícia do falecimento do líder camponês Manoel da Conceição. A UEMASUL expressa apoio e solidariedade aos familiares e amigos neste momento de dor. Manoel da Conceição representa para todos nós a luta por igualdade, por educação e por mais dignidade ao homem do campo.
Perseguido, preso e torturado durante a ditadura militar, Manoel da Conceição foi um dos maiores articuladores da luta camponesa no Brasil. Faleceu nesta quarta-feira, 18 de agosto de 2021, deixando um legado de luta e resistência.
Nascido em 1935, na região de Pedra Grande, no Maranhão, sua vida foi marcada pela pobreza, fruto da exclusão político-econômica. Aprendeu a profissão de ferreiro com o pai, mas sua vocação maior era a de trabalhador rural. Conheceu a primeira expulsão de terra no início da década de 1950, quando titularam uma grande área, abarcando as terras de várias famílias trabalhadoras rurais, entre as quais, a de seus pais.
Entre uma expulsão e outra, Manoel e família chegaram à cidade de Pindaré-Mirim, no Maranhão, em 1962. Começou então a participar de um curso de formação sindical e cooperativa por meio do Movimento de Educação de Base (MEB). Seu envolvimento tornou-se cada vez mais intenso nas lutas sindicais, especialmente na esfera da luta camponesa.
Uma de suas primeiras e mais importantes atuações como liderança camponesa foi a criação de escolas sindicais. Com a ajuda de outros trabalhadores rurais, criaram 28 escolas com o intuito de alfabetizar os trabalhadores da região de Pindaré.
Manoel da Conceição, como ficou conhecido, acreditava em um mundo mais justo e melhor. Ao lado de um grupo de trabalhadores, fundou o primeiro sindicato de trabalhadores rurais de Pindaré-Mirim, tornando-se seu primeiro presidente.
Após o Golpe Militar de 1964, o Governo mandou fechar o sindicato, colocando os trabalhadores rurais na clandestinidade, tornando Manoel uma das mais perseguidas vítimas do Regime Militar em Pindaré e no Brasil.
Apesar da repressão, em 1968, o sindicato tinha 4 mil filiados, quando, no dia 13 de julho, a polícia invadiu a subsede do sindicato em Anajá e Manoel da Conceição foi baleado na perna direita e novamente preso. Depois de seis dias na prisão, sem tratamento médico, parte da perna precisou ser amputada. O episódio marcante na vida de Manoel, ficou lembrado por sua célebre frase: “Aos que pensam que arrancaram minha perna, quero dizer que se enganam: minha perna é a minha classe”.
No início da década de 1970, Manoel, novamente preso é levado para a Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) de São Luís. Após sete meses de tortura, foi levado para Fortaleza e apresentado à Auditoria Militar.
Em maio de 1975, foi julgado na Auditoria Militar e condenado a três anos de prisão. Torturado, foi necessária a intervenção do Papa Paulo VI, que pediu por sua vida e exigiu sua libertação. Após libertado e colocado sob a proteção da Anistia Internacional, foi providenciada sua partida para Genebra, na Suíça, e assim Manoel passou três anos em exílio.
Em outubro de 1979, pouco após a publicação da Lei da Anistia, retornou ao Brasil para se engajar no processo de fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). No momento da fundação, foi a terceira pessoa a se filiar, e o primeiro presidente do PT no Estado de Pernambuco, onde, em 1982, candidatou-se a governador. Em 1986, retornou ao Maranhão, passando a residir em Imperatriz. Em 1994, tornou-se candidato do Senado pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Na década de 1990, ajudou a fundar o Centro Nacional de Apoio às Populações Tradicionais (CNPT); a Reserva Extrativista do Ciriaco, em Cidelândia – MA; a Rede Frutos do Cerrado, em vários municípios do Maranhão; diversas cooperativas de pequenos produtores rurais no sul do Maranhão; a União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar de Economia Solidária (Unicafes); e a Central de Cooperativas do Maranhão.
Nos últimos anos, dedicou-se às atividades do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural (CENTRU) e da Central de Cooperativas Agro-extrativistas do Maranhão (CCAMA).
“Ainda hoje eu penso: se a gente esquecer de lutar pela terra nós estamos indo pelo caminho errado, tem que conquistar a terra sabendo o que vai fazer com ela. Uma coisa que nós conseguimos compreender em todo esse tempo de luta é que a terra é um bem comum e não pode ser destinada a quem somente quer ganhar dinheiro” (Manoel da Conceição para o Jornal do Brasil de Fato).
Com informações do artigo “Manoel da Conceição Santos: de camponês a líder político”, do professor e diretor do curso de História Licenciatura da UEMASUL, Raimundo Lima dos Santos.